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Coelho: símbolo ou vítima da Páscoa? – por Joana Gomes

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 O coelho, que é um dos principais símbolos da Páscoa, ganha especial atenção por parte de adultos e crianças nesta época do ano. Por este motivo, são explorados por criadores que os reproduzem sem cuidados nem medidas e sofrem nas mãos dos tutores que os adquirem impulsivamente, passando assim de símbolos a vítimas.

Estes animais são oferecidos como presentes, passando a sofrer nas mãos de um tutor que, quando passa a euforia, não sabe lidar com as necessidades tão específicas destes animais. São animais que precisam de cuidados muito diferentes de um gato ou um cão, também exigem custos e não são animais para estar confinados a uma jaula e a comer unicamente ração quando os tutores chegam a casa do trabalho.

E depois da euforia da Páscoa?frase artigo 1

O destino de grande parte destes coelhos é o abandono, SIM O ABANDONO! Para algumas pessoas ainda pode soar estranho alguém abandonar um coelho, mas o que é certo é que, infelizmente, este tipo de situação é cada vez mais recorrente. Os que não são abandonados, acabam por não ter as condições de vida adequadas e têm que sobreviver, mas frágeis como são, 95% destes coelhos morre com cerca de 1 ano de idade, enquanto que a esperança média de vida destes animais ronda os 10 anos. 9 anos que são roubados, 9 anos nos quais podiam ser imensamente felizes noutro lar, com todos os cuidados que necessitam, com todo o carinho que merecem.

Onde entra o Enfermeiro Veterinário nisto tudo?

Como sabem, este é o profissional que no CAMV acaba por ter uma maior relação de confiança com o tutor, daí ser importante conversar com todos os possíveis adotantes de coelhos para consciencializar e dar a entender que a tarefa de cuidar de um coelho não é tão fácil como parece.

Antes de tudo mais, temos que perceber se a pessoa tem ou não condições para ter um coelho dentro de casa. Um coelho exige espaço e não é para estar eternamente confinado a uma jaula. É muito importante também que todos os membros da família estejam de acordo com a adoção do coelho. Por fim, é importante que o tutor perceba que um coelho implica também gastos de veterinário, alimentação, higiene e tal como qualquer outro animal, também poderá adoecer e necessitar de cuidados especiais.post instaÉ importante sublinhar várias vezes que adotar implica cuidar. Os coelhos são animais que vivem em média 10 anos, e em cada fase da vida necessitam de cuidados diferentes. Necessitam de uma dieta balanceada e equilibrada, com feno à descrição de boa qualidade, vegetais frescos variados, ração como suplemento e em pellets (sim, não devemos encorajar as marcas brancas de supermercado, uma má alimentação conduz a doenças graves nos coelhos, e isso também é maus tratos!), e uns mimos de vez em quando como todos merecem. São animais que gostam e precisam de se exercitar, de brincar e de atenção uma vez que ficam aborrecidos rapidamente. São animais que também necessitam do seu espaço, e portanto é necessário ter atenção se há crianças no lar, e alertar sempre para nunca deixar o coelho e as crianças sem supervisão. São roedores, portanto o tutor tem que estar disposto a adaptar algumas coisas na casa para sua segurança e para a segurança do coelho. São animais frágeis e sensíveis.

Adotar é um ato de carinho, por isso, esta Páscoa vamos consciencializar e educar os tutores. Porque os coelhos merecem bons lares, com boas condições e merecem todos ser seniores um dia. Animais não são objetos para ser dados como prendas e descartados quando já não se quer usar mais.

Em caso de dúvida, este ano, apenas recomendo um coelho de chocolate.

Enf. Vet. Joana Gomes

 

És enfermeira veterinária? Que giro!

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A nossa grande Enf. Filipa Queirós a falar diretamente para aqueles que “acham gira” a nossa profissão. Lindo.

 

Terapia Laser – por Martim Melo Amaro

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O que é a Terapia Laser?

A Terapia Laser (TL) é uma abordagem terapêutica que pode ser utilizada na resolução de diferentes condições, seja num contexto de reabilitação fisioterapêutica ou na prática clínica geral. Nos últimos anos têm sido muitos os casos de estudo com sucesso que demonstram a sua eficácia no tratamento de patologias musculoesqueléticas, doenças degenerativas e alterações fisiológicas.

O recurso à luz laser e a sua direta aplicação no organismo estimula uma resposta (Fotobiomodulação – FBM) nas células dos tecidos alvos, com vista à regeneração tecidular, redução de processos inflamatórios e indução de analgesia.

A sua utilização como único agente terapêutico ou como adjuvante a tratamentos ditos, mais convencionais, permite reduzir o tempo de recobro pós-cirúrgico e ambulatório, reduzindo o stress inerente ao paciente num contexto clínico/hospitalar, promovendo o bem-estar animal e aumentando a satisfação do cliente.

Que processos/mecanismos são estimulados pelo Laser?

Existem vários processos fisiológicos que são estimulados e enaltecidos quando a Terapia Laser é aplicada, mas que podem ser agrupados em três principais: Analgesia, Redução da Inflamação e Reparação Tecidual.

Analgesia

Resumidamente a TL consegue diminuir ou abolir de forma significativa a perceção da dor de modo físico, químico e enzimático: altera os níveis de alguns dos intervenientes na modulação do estímulo nociceptivo, no caso das β endorfinas, bradicininas e óxido nítrico, bloqueia a despolarização das fibras nervosas C, regulariza as trocas iónicas e o potencial de ação de células cuja homeostasia se encontre comprometida e promove a regeneração celular nervosa, assim como é capaz de promover crescimento axonal. Clinicamente isto tudo traduz-se na redução da perceção da dor no paciente.

Redução Inflamação

A aplicação da FBM através da TL pode ser uma abordagem eficaz na redução do processo inflamatório mediando os processos subjacentes a este mecanismo, e reduzindo-os através de uma sequência coordenada de alterações. Esses eventos são a síntese e produção de ATP em células cujo metabolismo se encontra comprometido (já referido anteriormente), a estabilização das membranas celulares, estimulação da vasodilatação, aumento na síntese de prostaglandinas, modulação dos níveis de IL-1 e TNF-α, aumento da atividade leucocítica e melhoria da resposta linfocítica, modulação da temperatura e melhoria na ação da Superóxido Dismutase (SOD).

Reparação Tecidual

Uma característica realmente única da FBM, através da luz laser, é a capacidade de acelerar e melhorar a reparação celular. Várias caraterísticas da TL que ajudam na redução da dor e inflamação também apresentam um papel importante nestes processos. Ao longo do processo de resolução da ferida, a TL apresenta-se, independentemente do tipo de ferida, como uma oportunidade de intervenção positiva e benéfica, promovendo uma melhoria na infiltração leucocítica, neovascularização e proliferação de fibroblastos e queratinócitos. Adicionalmente, auxilia na epitelização, aumenta os fatores de crescimento, melhora a diferenciação e proliferação celular, e amplia a resistência e tensão dos tecidos recém-cicatrizados.

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Em que tipo de situações pode a Terapia Laser ser aplicada?

De uma forma geral existem três grandes grupos de alterações onde a Terapia Laser pode ser aplicada.

Resolução e Maneio de Feridas/Soluções de Continuidade

O objetivo no maneio de feridas, independentemente da sua etiologia, é devolver ao indivíduo as funções desempenhadas pelo tecido afetado o mais rápido possível e com o aspeto mais normal possível.

A aplicação da TL vai afetar de modo positivo todo e qualquer aspeto no processo de cicatrização de feridas. Acelera o metabolismo das células expostas e providencia a base para a substituição do tecido lesionado por tecido normal, saudável e funcional, diminuído a possibilidade de formação de tecido cicatricial sem função.

As feridas podem ter uma velocidade de contração de cerca de 0,75mm/dia, no entanto este valor é altamente subjetivo uma vez que depende de vários fatores, entre os quais, o metabolismo do individuo e do quão laxo o tecido, onde a lesão se encontra, é. Com a aplicação da TL a velocidade desta contração aumenta significativamente podendo alcançar o dobro do valor.

Condiçoes Feridas

Alterações MusculoEsqueléticas

No tratamento de problemas que envolvam o tecido muscular e ósseo (e consequentemente os ligamentos que os unem) existem objetivos específicos a alcançar, dependentes da condição que o paciente apresenta. Primeiramente a redução da dor e inflamação é de extrema importância tendo em conta quer o bem-estar animal, quer os benefícios associados para a resolução da patologia.

Muito comumente, após uma lesão musculoesquelética ou correção cirúrgica da mesma, ocorre uma imobilização dos tecidos envolventes, traduzindo-se numa redução da amplitude de movimento ou falta de flexibilidade associada aos tecidos moles. Impedir que esta consequência se estabeleça e perdure no tempo é outro objetivo a ter em conta.

Outro aspeto fundamental na reabilitação musculoesquelética é a restauração do tónus muscular e força dos tecidos afetados. Uma diminuição da utilização dos tecidos musculares leva a uma atrofia das fibras musculares. Da mesma forma, ossos fraturados representam estruturas enfraquecidas incapacitadas para sustentação do peso e/ou realização de tarefas motoras.

A aplicação da fototerapia imediatamente após a lesão ou correção cirúrgica auxilia na resolução destes problemas, acelerando a sua resolução. 

Adicionalmente, uma aplicação da TL juntamente com exercícios de amplitude de movimento passivo (PROM), nos casos onde estes são aconselhados, promovem um restauro e regeneração da função muscular e ortopédica, aumento da flexibilidade e diminuição de dor.

Condições MusculoEsqueléticas

Alterações Dermatológicas

A pele é o maior órgão do corpo, e tratando-se de um sistema orgânico completo as suas funções podem sofrer alterações. Pode ser um “espelho” onde são refletidos possíveis problemas de outros sistemas como por exemplo o sistema endócrino, imunitário entre outros, e por ser o sistema do organismo com exposição direta ao ambiente vários agentes podem ter um efeito na saúde do mesmo.

Vários casos que surgem num CAMV têm como natureza um problema dermatológico. Apesar de ser sempre procurado um diagnóstico definitivo, muitas vezes a sua etiologia não é facilmente descortinada e estas alterações da pele são categorizadas como alterações inflamatórias não específicas.

A adição da Fototerapia, seja numa abordagem única ou conjunta com fármacos, irá auxiliar notória e positivamente a resolução da patologia, mesmo em casos onde esta é recorrente ou crónica. O paciente irá apresentar um alívio dos sintomas associados de forma imediata, e será visível uma redução da inflamação e edema associado.

Condições Dermatológicas

Existem contra-indicações na utilização desta abordagem terapêutica?

Sim. De igual forma a outras abordagens terapêuticas que apresentam situações cuja aplicação é desaconselhada ou contra indicada a Terapia Laser não é exceção. A principal contra-indicação da TL é a exposição, seja direta ou indireta, do feixe laser no globo ocular, seja do operador, paciente e, até de quem esteja a assistir durante o procedimento, pelo risco de lesão e possível cegueira. Deve-se usar sempre os óculos de segurança que são disponibilizados pelo fornecedor do dispositivo laser, sendo esta a regra nº1 de segurança na utilização desta tecnologia.

laser proibido

A exposição dos testículos à radiação laser é desaconselhada. Apesar de existirem estudos científicos que suportem os benefícios da terapia no combate à infertilidade, não existe literatura até à data que suporte a aplicação desta terapia em animais de companhia. Sendo assim, a utilização da TL é desaconselhada como forma de tratamento dos testículos.

Em hemorragias ativas a TL é totalmente contraindicada. O uso desta em lesões onde existam hemorragias ativas, poderá provocar um aumento da vasodilatação levando consequentemente à exacerbação da condição.

No caso de animais gestantes é desaconselhada a irradiação da cavidade abdominal, zona pélvica e coluna lombar. Na ausência de estudos e factos que demonstrem não existir efeitos nocivos, quer para o feto quer para a mãe, a não exposição destas zonas à TL é uma precaução e atitude prudente a ter em conta.

Tal como nas hemorragias, a TL é totalmente contraindicada em casos de neoplasias, sendo que a irradiação direta não deve ser aplicada em lesões primárias ou secundárias. Apesar de diversos estudos laboratoriais, em células saudáveis, terem falhado consistentemente em demonstrar os possíveis efeitos carcinogénicos da radiação laser, é possível que a aplicação terapêutica do laser acelere a carcinogénese em pacientes onde uma neoplasia esteja diagnosticada. Destacam-se como principais neoplasias a evitar, carcinomas e melanomas.

A luz laser também não deve ser administrada em pacientes que estejam a receber medicação fotossensível. Alguns fármacos incluídos neste caso são a tetraciclina, oxitetraciclina, acetazolamida,, griseofulvina e tiabendazole. No caso da medicação corticosteroide (e.g. prednisona e cortisona) o laser não deve ser aplicado na área onde foi injetada recentemente a dita medicação.

No caso de diagnóstico de inflamações de epífise o uso da TL deve ser iniciado com uma dose baixa, e posteriormente só devem ser aplicados os tratamentos realmente necessários para reduzir a tumefação.

Finalmente, perante pacientes que padeçam de cardiomiopatias, a aplicação do laser sobre gânglios do sistema nervoso simpático, sobre o nervo vago e sobre a região cardíaca é totalmente contraindicada. A aplicação sobre estas estruturas pode alterar a função neuronal resultando em efeitos adversos para a função cardíaca, representando um risco inaceitável para estes pacientes.

Que papel pode o Enfermeiro Veterinário desempenhar nesta terapia?

A TL é um tratamento que exige algum conhecimento sobre o mesmo, uma vez que é necessário perceber os aspetos biofísicos associados à tecnologia laser e técnicas para uma aplicação correta, sendo também imprescindível que o operador possua bases de anatomia e fisiologia animal.

O enfermeiro veterinário apresenta-se como um elemento importante na TL. Ao ser capacitado com as noções teóricas acima mencionadas, e posteriormente a uma formação mínima ou guiado na clinica por um médico veterinário, pode executar e administrar a terapia ao paciente. Ao ser capaz de realizar esta terapia, liberta tempo essencial para que os médicos veterinários possam executar a sua rotina clinica/hospitalar, e consequentemente tarefas exclusivas da medicina veterinária.

 A realização da TL pelo enfermeiro veterinário irá depender sempre da autorização e prescrição por parte do médico veterinário. Adicionalmente, o enfermeiro veterinário pode ainda auxiliar na aplicação da mesma, realizando a contenção do paciente sempre da forma mais confortável possível.

Apesar da prescrição dos tratamentos não fazer parte das competências do enfermeiro, este pode explicar os mecanismos e clarificar quaisquer dúvidas ao tutor de um potencial paciente utilizador da TL, indicando sempre que a opção por esta terapia dependerá da abordagem que o médico veterinário considerar a mais apropriada na resolução da patologia que o paciente apresente

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Martim Melo Amaro, E.V.